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Cinema com ela
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“Grande Sertão” é releitura poderosa com linguagem teatral no meio de um futuro distópico

Inspirado na obra de Guimarães Rosa, o novo longa de Guel Arraes chega aos cinemas nesta quinta-feira (6)

Tamires Rodrigues

06/06/2024 5h00

Foto: Divulgação/Paris Filmes

Adaptações literárias são talvez uma das maiores dificuldades no cinema, não é uma tarefa fácil, espremer um livro dentro de uma tela, este ano tivemos um ótimo exemplo com “Paixão Segundo G.H”, inspirado no clássico de Clarice Lispector. Nesta quinta-feira (6), estreia “Grande Sertão”, dirigido por Guel Arraes. Uma versão que pode ser descrita como audaciosa e inovadora do romance clássico da literatura brasileira “Grande Sertão: Veredas”, do mineiro Guimarães Rosa.

Na trama, a comunidade “Grande Sertão” é controlada por facções criminosas, onde uma luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra, refletindo a realidade brutal das comunidades controladas pelo crime. Neste lugar, Riobaldo (Caio Blat) acaba entrando em uma delas para seguir Diadorim (Luísa Arraes), cuja identidade e a paixão que sente são mistérios conflitantes em sua cabeça. A partir de então, em meio a um ambiente hostil de guerra, Riobaldo enfrenta dilemas éticos, morais e existenciais, enquanto busca entender seu lugar no mundo e sua própria natureza.

Foto: Divulgação/Paris Filmes

Considerado um dos melhores cineastas nacionais, Guel Arraes é responsável por verdadeiros clássicos contemporâneos da sétima arte brasileira: “O Auto da Compadecida” (2000), “Lisbela e o Prisioneiro” (2003), “O Bem-Amado” (2010). Um nome de peso quando se trata de adaptações, Arraes ainda retorna este ano para a continuação mais do que esperada das aventuras de João Grilo e Chicó em “O Auto da Compadecida 2”.

A direção de Guel Arraes é um dos grandes trunfos do filme. Já podemos deixar claro que o longa não se propõe a ser uma adaptação direta da obra de Guimarães Rosa. Para isso, já existe a versão de 1965. O roteiro, assinado por ele e pelo grande Jorge Furtado, recria o cenário já conhecido entre Minas e Bahia para uma favela mais tradicional dominada por bandidos no meio de uma disputa com a força policial.

Foto: Divulgação/Paris Filmes

Arraes prende a atenção do espectador do início ao fim, com uma narrativa equilibrada, bem construída que transita entre o drama e a ação com sutileza. A estética do filme só pode ser descrita como impressionante, digna dos melhores filmes que abordam distopias. Uma versão futurista, de algo que crescemos conhecendo.

A fotografia excepcionalmente criada por Gustavo Hadba colide entre a beleza das comunidades no meio da brutalidade opressora. A caracterização dos personagens impressiona, tanto no figurino quanto na maquiagem/cabelo – setores comandados por Cao Albuquerque, Diana Leste e Rosemary Paiva. Com fortes referências steampunk. O vilão interpretado por Eduardo Sterblitch é chocante, seu personagem está irreconhecível, um misto entre Gollum de “O Senhor dos Anéis”, com uma voz grave e sinistra, sua melhor performance sem dúvidas.

Aliás, uma das melhores coisas do novo filme são suas atuações, os diálogos recriados com uma linguagem teatral tornam impossível desviar o olhar. Caio Blat como o protagonista Riobaldo, oferece uma performance singular e magistral sobre a complexidade humana, entre a moralidade e o amor. Sua atuação é cativante e muitas vezes intensa. Luísa Arraes já mostrou que tem muito a oferecer, como Diadorim sua interpretação é a força que o longa poderia esperar, intensificada pelo mistério, sua disfunção emocional e poder. Cada personagem reflete à sua maneira a violência, o instinto de sobrevivência no meio do caos da briga do mais forte.

Conclusão

“Grande Sertão” é uma obra cinematográfica que não busca o caminho mais fácil, sua direção é marcante, suas atuações são fascinantes e seu visual é deslumbrante. Um filme que cria uma releitura forte e poderosa de um clássico imortal da literatura brasileira. Guel Arraes deixa novamente sua marca no cinema nacional.

Confira o trailer:

Ficha Técnica
Direção: Guel Arraes;
Roteiro: Guel Arraes, Jorge Furtado;
Elenco: Caio Blat, Luisa Arraes, Rodrigo Lombardi, Eduardo Sterblitch;
Gênero: Aventura, Drama, Ação;
Duração: 115 minutos;
Distribuição: Paris Filmes;
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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