“Não Fale o Mal” é o tipo de filme que começa como uma comédia de figurino e lentamente nos empurra para um abismo de desconforto, até que você se pergunte se ainda deveria estar rindo. James Watkins, com sua direção calculada, transforma uma viagem aparentemente inofensiva de fim de semana em uma experiência densa e cheia de tensão, mas que acaba se dissolvendo antes de chegar a algo realmente concreto.
A trama segue Ben e Louise (Scoot McNairy e Mackenzie Davis), um casal americano que vive em Londres e, em um ato de impulsividade, aceita o convite de Paddy (James McAvoy) e Ciara (Aisling Franciosi) para ar alguns dias em sua fazenda isolada. O que começa como uma oportunidade de escapar da rotina se transforma em um jogo psicológico onde gentileza e desconforto andam de mãos dadas.
McAvoy, mais uma vez, encarna o papel de vilão com maestria. Sua interpretação de Paddy é tão desconcertante quanto cativante – ele é o tipo de hospedagem que faz você se sentir um completo ingrato por não aceitar sua hospitalidade, mesmo quando essa hospitalidade vem embalada em camadas de manipulação. Em um minuto, ele está operando um banquete, no outro, você se vê questionando seus interesses reais. O brilho em seus olhos, ao recitar um poema sombrio durante o jantar, faz o público sentir que algo está à espreita.
A tensão crescente é construída de forma eficiente, com Watkins aproveitando cada olhar, cada silêncio desconfortável, para encher a atmosfera de mal-estar. O casal McNairy e Davis desempenha bem seus papéis, especialmente quando a relação entre seus personagens começa a rachar sob a pressão da estadia na fazenda. Enquanto Ben parece desesperado para manter a aparência de normalidade, Louise é constantemente alertada pelo instinto de que algo está muito errado. Esse contraste é um dos pontos altos do filme, e ambos os atores trazem profundidade aos seus personagens até mesmo nas cenas mais banais.
Mas é aqui que o filme perde sua força: “Não Fale o Mal” se estabelece como uma promessa de uma explosão de caos e violência iminente, mas quando chega a hora, o clímax é frustrantemente previsível. A transformação de um thriller psicológico em um confronto físico parece apressada, e o longa não consegue entregar a tensão sufocante que foi construída ao longo de sua jornada. A luta final parece mais como um checklist de clichês do gênero do que um momento de verdadeira catarse.
Ainda assim, a trama tem seus méritos. Ele oferece reflexões sutis sobre os limites da cortesia e até que ponto estamos dispostos a manter as aparências em nome da convivência. A crítica à fragilidade das convenções sociais e à forma como nos permitimos ser exploradas por aqueles que consideramos amigos, mesmo quando os sinais de alerta estão piscando, é instigante.
Conclusão
No fim, “Não Fale o Mal” é um filme que vale a pena pelo caminho que percorre, ainda que tropece na reta final. McAvoy rouba a cena com sua atuação envolvente, e a dinâmica entre McNairy e Davis traz uma verossimilhança que mantém o público conectado. No entanto, para aqueles que buscam uma experiência de terror que desafie expectativas e deixe uma marca profunda, a conclusão do longa pode parecer mais um murmúrio do que um grito.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: James Watkins;
Roteiro: James Watkins;
Elenco: James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi, Alix West Lefler, Dan Hough;
Gênero: Terror;
Duração: 110 minutos;
Distribuição: Universal Pictures;
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z
