É raro encontrar uma obra cinematográfica que capte, com tanta delicadeza, a mágica do ordinário como “O Dia Que Te Conheci”. Dirigido por André Novais de Oliveira, o filme eleva a simplicidade cotidiana a uma narrativa íntima, envolvente e surpreendentemente emocional, repleta de humanidade e empatia. O título já entrega parte da trama, mas o que poderia ser uma comédia romântica comum, se transforma em uma verdadeira reflexão sobre o peso da rotina e a leveza que pequenas conexões podem trazer.
Zeca, interpretado de forma sublime por Renato Novaes, é um bibliotecário que luta diariamente para sair da cama e enfrentar o mundo. Não apenas pelos desafios do trabalho, mas pela própria natureza de uma vida que parece estagnada, agravada pela depressão e pelos medicamentos que o arrastam para o sono. A trama ganha um novo ritmo quando ele encontra Luísa (Grace ô), uma presença silenciosa e constante na escola onde trabalha, mas que, por conta da pressa do cotidiano, ele nunca havia realmente notado. É a partir dessa premissa simples que o longa constrói sua força: a descoberta do outro, de si mesmo e das pequenas alegrias da vida.
O que Novais faz aqui é oferecer ao público uma janela para observar o que há de mais sincero na interação humana. Com planos fixos que revelam aos poucos a profundidade dos personagens, ele nos convida a olhar, sem pressa, a vida que corre ao redor deles – e, de certa forma, ao redor de nós. Os longos silêncios, os diálogos corriqueiros e as cenas despretensiosas entre Zeca e Luísa nos lembram que, muitas vezes, a beleza está nas coisas mais banais.
A química entre os protagonistas é o coração pulsante do filme. Não há grandes declarações de amor ou gestos grandiosos; ao contrário, é na troca de olhares, no compartilhar de ansiedades e até mesmo na curiosidade bizarra sobre os remédios que cada um toma, que a relação se constrói. A tragicomédia da vida moderna é exposta de forma brilhante: quando Luísa descobre que Zeca vinha tomando seus remédios de maneira errada – o que o impedia de acordar para o trabalho e culminou em sua demissão – o público é presenteado com um momento singelo, mas revelador, sobre como pequenos gestos de cuidado podem transformar vidas.
Outro destaque é a ambientação mineira, que dá uma autenticidade única para a trama. O “mineirês” suave e melódico das falas, as ruas de Belo Horizonte e a trilha sonora local, com nomes como Djonga e FBC, criam um ambiente palpável e próximo para quem assiste. A Filmes de Plástico, produtora responsável por essa e outras obras igualmente sensíveis como “Marte Um” (2022), conseguiu novamente transformar o cotidiano em um espaço de magia e beleza.
Em seus concisos 71 minutos, “O Dia Que Te Conheci” consegue evocar sentimentos profundos sobre o tempo, o amor e a solidão. Não é um longa que promete finais felizes ou resoluções definitivas – e nem precisa. A força da narrativa está justamente na ideia de que o presente, por mais ageiro que seja, pode ser transformador. E o que poderia ser mais romântico do que acreditar que um simples encontro pode mudar tudo?
Conclusão
André Novais de Oliveira nos dá uma obra que é, ao mesmo tempo, suave e poderosa, cômica e melancólica. Não se sabe se Zeca e Luísa seguirão juntos, mas o filme nos lembra que o mais importante é o momento. E naquele dia, ao se conhecerem, algo mudou para sempre.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: André Novais Oliveira;
Roteiro: André Novais Oliveira;
Elenco: Grace ô, Renato Novaes, Kelly Crifer, Fabrício Fbc;
Gênero: Drama, Comédia;
Duração: 71 minutos;
Distribuição: Malute;
Classificação indicativa: 16 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Sinny Assessoria
