“Silvio”, o tão aguardado filme sobre um dos ícones mais reverenciados da televisão brasileira, chega aos cinemas com grandes expectativas e, infelizmente, com algumas grandes decepções. O que poderia ter sido uma homenagem multifacetada ao lendário Silvio Santos se revela uma narrativa truncada, que falha ao tentar equilibrar o drama do sequestro com a complexidade de uma vida marcada por conquistas.
A trama se inicia 12 horas após o sequestro de sua filha (Polliana Aleixo), quando Silvio enfrenta uma nova crise: sua casa é invadida e ele é mantido como refém por sete horas. Diante dessa situação de extremo perigo, o apresentador precisa lutar pela sua vida e pela segurança de sua família, enquanto reflete sobre sua trajetória de vida, marcada por desafios e conquistas. As lembranças remontam à sua juventude, quando, aos 14 anos, começou a trabalhar como camelô, dando os primeiros os em direção ao sucesso. O filme explora o lado humano de Silvio, que, mesmo em uma situação de vulnerabilidade, tenta proteger seu legado. Esse evento dramático marcou o Brasil e se tornou um dos momentos mais desafiadores na vida do apresentador, destacando sua resiliência e força interior.

Rodrigo Faro, escolhido para o papel principal, entrega uma atuação que carece de sutileza e não consegue transmitir a autenticidade necessária para personificar o apresentador. A maquiagem que tenta envelhecê-lo é mais uma distração do que uma solução, afastando o público em vez de aproximá-lo da figura icônica de Silvio. As falhas de caracterização são ainda mais evidentes quando Vinicius Ricci entra em cena, interpretando um jovem Silvio sem qualquer semelhança convincente com Faro, tornando a transição entre os tempos da vida do protagonista estranha e desconectada.
O roteiro, em sua tentativa de ser original ao focar no episódio do sequestro, perde oportunidades valiosas de explorar momentos significativos da carreira de Silvio Santos. A omissão do SBT e a superficialidade com que alguns fatos são tratados podem frustrar os fãs que esperavam um mergulho mais profundo na história desse gigante da comunicação. Mesmo os flashbacks que mostram sua infância como camelô e sua ascensão no rádio soam apressados e sem o impacto emocional esperado.

Por outro lado, o filme encontra um pouco mais de sucesso ao adotar um tom policial na relação entre Silvio e o sequestrador Fernando, interpretado por Johnnas Oliva. As cenas de tensão são interessantes, embora a direção de Marcelo Antunez, com uma pegada mais de reconstituição de programa policial, nem sempre alcance o tom certo para segurar o espectador até o final. A dinâmica entre Faro e Oliva carrega algumas das melhores partes da trama, quando o longa foca mais na calma estratégica de Silvio, que tenta manter o controle da situação usando sua famosa lábia.
“Silvio” tinha todos os elementos para ser um filme grandioso, mas as escolhas equivocadas em roteiro, direção e elenco enfraquecem o resultado final. Para os fãs de dramas policiais, o filme pode até oferecer alguns bons momentos. Mas, para aqueles que esperavam uma cinebiografia à altura da trajetória impressionante de Silvio Santos, a obra falha em capturar a essência de quem ele realmente foi.

Conclusão
Em última análise, o filme deixa a sensação de que, assim como Silvio Santos soube se reinventar ao longo de sua carreira, talvez o cinema brasileiro ainda precise encontrar a fórmula certa para fazer jus a sua história.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Marcelo Antunez;
Roteiro: Anderson Almeida, com colaboração de Ana Luiza Savassi, Cadu Machado, Juliana Koch, e Ricardo Inhan;
Elenco: Rodrigo Faro, Johnnas Oliva, Vinícius Ricci, Fellipe Castro, Marjorie Gerardi, Eduardo Reyes, Bruna Aiiso, Duda Mamberti, Lara Córdula, Adriana Londoño, Polliana Aleixo. Ator convidado: Paulo Gorgulho;
Gênero: Suspense, Policial, Biografia;
Duração: 114 minutos;
Distribuição: Imagem Filmes;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Imagem Filmes