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A exclusão social do preconceito linguístico e suas duras consequências

A influência da linguagem na exclusão social e a importância da valorização da diversidade linguística

Luana Tachiki

03/04/2025 10h32

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Foto: Freepik

A linguagem é um elemento essencial que reflete e molda a sociedade, transmitindo valores, normas, condutas, costumes e identidades culturais. Ela varia conforme fatores sociais, como classe social, gênero, idade, religião, etnia e região geográfica.

O preconceito linguístico é uma forma de intolerância que pode levar à exclusão social de quem não se expressa de acordo com a norma-padrão de uma determinada região. Pessoas que sofrem esse tipo de discriminação podem ser alvo de julgamentos por seu sotaque, por serem não nativos, por dificuldades de alfabetização, por baixa escolaridade, problemas de dicção ou por fatores fisiológicos decorrentes de doenças, como derrames, câncer, demência, ou ainda por questões estruturais, como a formação da arcada dentária.

Independentemente das circunstâncias, aqueles que enfrentam o preconceito linguístico podem sentir profundo constrangimento e sofrer com isolamento social, discriminação no mercado de trabalho, baixa autoestima, ansiedade e depressão, entre outras consequências.

Esse tipo de preconceito reforça estereótipos e contribui para a falsa ideia de que certos grupos sociais são superiores a outros. A discriminação linguística provoca sofrimento, traumas e a formação de crenças limitantes que afetam a confiança e o bem-estar dos indivíduos.

Você já presenciou ou viveu situações em que uma expressão idiomática diferente ou um dialeto regional causou estranhamento? Já se sentiu desconfortável ao usar uma expressão típica de sua terra natal em um novo ambiente e perceber que as pessoas ao redor reagiram com risadas?

Algumas expressões regionais ilustram bem essa diversidade linguística:

  • Nordeste e Norte: “Machuquei o quengo” (machuquei a cabeça), “Eita píula! ei na primeira fase!” (expressão de iração e intensidade).
  • Minas Gerais: “Ó só pcê vê” (olhe só para você ver), “Sa ado” (sábado ado), “Conta z’óra?” (que horas são?).
  • Brasília: “Vou pegar o baú” (vou pegar o ônibus), “Deixa eu andar no seu camelo” (deixa eu andar na sua bicicleta), “Boto fé, você conte comigo” (concordo).
  • Bahia: “Baratino esse cara” (essa pessoa está enrolando), “Colé de mêrmo?” (como vai você?), “Aooonde!” (não mesmo!).

Os sotaques também influenciam a pronúncia e podem causar estranhamento, levando à discriminação. Esse fenômeno afeta tanto brasileiros de diferentes estados quanto estrangeiros que falam português como segunda língua.

O fato de uma expressão ou pronúncia ser diferente não significa que seja errada, feia ou motivo para ridicularização. A diversidade linguística é uma riqueza e reflete a complexidade cultural de um povo. Mesmo que uma pessoa tenha pouco conhecimento da norma culta da língua portuguesa, ninguém tem o direito de julgá-la por isso.

Uma mentalidade madura não julga ou desdenha, mas busca compreender os fatores que tornam uma expressão “fora do padrão”. Infelizmente, muitos optam pelo caminho mais fácil e se rendem à discriminação travestida de humor, ignorando o impacto emocional e social desse comportamento.

Em vez de julgar, escolha aprender com quem tem uma experiência linguística diferente da sua. A diversidade de expressões e formas de falar é uma demonstração viva da riqueza cultural do Brasil.

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