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Para falar bem, precisa saber respirar

Você sabe respirar?

Luana Tachiki

28/03/2023 5h00

Foto: Kelvin Valerio/Pexels

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Se você perde o fôlego durante as frases, percebe que insere o ar no momento errado da fala e tem respiração curta, provavelmente você não está respirando da maneira correta, como a maioria das pessoas. É o que informa a Organização Mundial de Saúde (OMS). Pode ocorrer com pessoas de 20, 30, 40, 50 anos de idade.

De acordo com a OMS, 70% da população do mundo respira errado – com a respiração popularmente conhecida, de respiração torácica, clavicular, pulmonar ou peitoral. O problema de respirar errado é que você utiliza um processo antifisiológico, ou seja, compromete o desenvolvimento de fluidez da fala, além de desencadear vários problemas de saúde física e mental. Para o especialista em ansiedade e professor de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Geraldo Possendoro, problemas como ansiedade, estresse, depressão e até elevação dos níveis de obesidade são desencadeados por respirar errado.

Para ter mais fôlego ao falar, ganhar eloquência e até combater esses inúmeros problemas de saúde, o primeiro o é abandonar o uso da respiração torácica, que é considerada de baixa qualidade e nada saudável, mas que ainda é um padrão respiratório para a maioria das pessoas, de acordo com especialistas do trato vocal. Então, para ganhar mais qualidade respiratória, vocal e combater doenças, que tal a partir de agora começar a observar como funciona a sua respiração, na maior parte do tempo?

Como respirar corretamente?

Para iniciar, observe como se comporta seu corpo ao respirar profundamente: verifique se você levanta a parte superior do sistema respiratório, como os pulmões, e examine se seus ombros se erguem enquanto você respira. Se isso ocorrer, é porque você faz parte dessa porcentagem apontada pela OMS.

Agora, veja como funciona a respiração dos bebês: eles utilizam a respiração corretamente – chamada de abdominal ou diafragmática. Ao Inspirar inflam as costelas utilizando uma respiração completa e profunda, movimentando o músculo do diafragma enquanto dormem. Já quando choram, é o tórax que mexe de forma mais dramática, ou seja, quando estão ansiosos e nervosos, usam a respiração errada, bem similar aos adultos que também respiram assim na maior parte do tempo.

Por que enquanto bebês respiramos corretamente, com exceção do momento de choro, e quando crescemos “desaprendemos” a respirar? Uma das causas é a postura corporal. É ela quem define grande parte do comportamento respiratório, ou seja, para respirar corretamente também precisamos melhorar nossa postura. Por isso, nada de ficar encurvado.

Outro ponto importante é entender a diferença entre respiração em repouso e respiração em movimento. A respiração em movimento ocorre durante a dinâmica de fala, quando estamos num discurso, sustentação oral, apresentação, canto ou até mesmo praticando algum esporte. Essa respiração ocorre, na maioria tempo, pela boca. O ponto crucial está no uso adequado dessa respiração, que é quando utilizamos o diafragma ao invés dos pulmões.

Já na respiração em repouso (quando estamos descansando), o mecanismo é o inverso: geralmente, inspira-se profundamente e por mais tempo, e expira-se por um período mais curto. Essa dinâmica é feita quase sempre pelo nariz. No entanto, devemos avaliar se, durante esse processo, estamos usando o diafragma.

De acordo com o preparador vocal e mestre em fonoaudiologia Wilson Gava, que já treinou famosos como Sandy & Júnior, Roberto Justus, Paulo Ricardo, Agnaldo Royal, Roupa Nova e Fat Family, a respiração diafragmática é a correta. A intercostal também é adequada mas representa menos de 5% do ato de respirar. “Saber captar o ar (inspirar) é importante, mas, durante o processo da fala, nós inspiramos menos e expiramos mais. Um dos grandes segredos da excelência vocal, já que a voz é o principal instrumento do orador, é ter absoluto controle da fase expiratória (saída do ar). O ar é o ‘combustível’ da voz. Quando você controla o ar, controla o som”. E para obter eficácia no controle dessa saída de ar, é preciso aprender a respirar pelo diafragma, completa Gava. “Aumentar o padrão de circulação respiratório através de técnicas como a da respiração cachorrinho é muito bom, mas sem exageros, para não ficar tonto e vir a desmaiar.”

Uma técnica interessante que podemos utilizar no combate ao stress, nervosismo e ansiedade antes de uma exposição em público é a de respiração para relaxamento. O mestre Wilson Gava dá algumas dicas para não exagerarmos nessa técnica:

“Pelo nariz, inspire por quatro segundos, segure o ar por dois segundos, e expire por seis segundos, fazendo biquinho ao expirar e um pouco de força para liberar o ar (como um sopro). Para quem já conhece a técnica e quer fazer num nível mais avançado, pode trocar o biquinho pela emissão do som de “S”. Faça essa dinâmica por no máximo dois minutos para não sentir sono antes de “entrar em cena”, no palco. Caso esteja em um nível ansiogênico elevado, pode estender a técnica por três minutos, não mais que isso, para não relaxar demais e ficar sonolento no início da sua performance.

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