Menu
Brasília

Missão humanitária no RS: “foi gratificante poder ajudar”

O JBr conversou com alguns dos 35 policiais enviados para ajudar os desabrigados pelas enchentes e ouviu histórias emocionantes

Afonso Ventania

10/07/2024 5h38

carta 1 (1)

Foto: Afonso Ventania / Bikerrepórter / Jornal de Brasília

Afonso Ventania
Bikerrepórter

“Obrigado por nos ajudar”, escreveu o gauchinho Rômulo Santos Machado em um papel. Na mesma folha, bem ao lado do agradecimento, a criança de 12 anos desenhou um helicóptero azul e branco com uma faixa vermelha e outra alaranjada, as cores da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Logo abaixo, ele pintou também um coração flechado e uma flor amarela rodeada pelas palavras: união, amor, caridade, respeito, felicidade e carinho.

Rômulo talvez não soubesse quando fez o desenho, mas sua pureza infantil acertou no tom. Isso porque as rosas amarelas são associadas ao agradecimento, alegria e amizade e também são vistas como símbolo de otimismo e recomeço. No anseio de agradecer, o menino externou também o maior desejo de todos os gaúchos na maior tragédia vivida pelo estado: renovação.

A pequena obra de arte pintada com as tintas da gratidão, foi entregue pelo menino ao piloto major Vilner Borges em reconhecimento ao empenho dos tripulantes do helicóptero Fênix 01. A aeronave foi enviada pela PMDF para realizar operações de resgate de vítimas em áreas remotas e entrega de mantimentos durante a missão humanitária no Rio Grande do Sul. Pelo menos por alguns momentos, a ilustração colorida daquele pequeno artista, tornou aqueles dias chuvosos menos cinzentos.

carta 2
Foto: Afonso Ventania / Bikerrepórter / Jornal de Brasília

“Ele me entregou o desenho logo depois de um desembarque para distribuirmos mantimentos à algumas famílias afetadas pelas enchentes. Mesmo estando em missão, nesses momentos, o nosso lado humano extrapola a farda militar e a emoção aflora. Foi o agradecimento mais puro e sincero que já recebi”, conta o oficial, com olhos marejados e voz embargada. O major Vilner é casado, tem dois filhos, e também é subcomandante do Batalhão de Aviação Operacional (Bavop), sediado no Guará II, onde ele guarda o desenho de Rômulo com todo o cuidado e carinho.

Para chegar ao Rio Grande do Sul, o Fênix 01 precisou fazer três paradas para abastecimento: em Uberlândia (MG), Bauru (SP) e Ponta Grossa (PR). O helicóptero prestou auxílio nas ações de busca e salvamento das vítimas desabrigadas após as inundações, especialmente em locais castigados pelos temporais e com risco de desabamento. Idosos, bebês e médicos, além de mantimentos e agasalhos foram transportados com segurança pelo ar ao longo dos 20 dias da missão.

bavop 1
Imagem cedida ao Jornal de Brasília

Ao todo, 35 policiais militares participaram da missão desde o início do desastre natural, em maio. A equipe da PMDF foi composta por integrantes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Patrulhamento Tático Móvel (Patamo), do Batalhão Ambiental (BPMA), Batalhão de Policiamento com Cães (BPCães), do Bavop, além de dois cães (K9), nove viaturas, duas lanchas e o helicóptero.

Para o comandante do BPCães, tenente-coronel Carlos Reis, a missão humanitária foi a maior experiência profissional que ele viveu em toda a carreira militar. Segundo ele, além do serviço policial de segurança pública, levar medicamentos, cobertores, agasalhos e alimentos foi gratificante. “Todos os policiais puderam ajudar bastante ao longo dos 20 dias que amos no Rio Grande do Sul. A missão foi tão emocionante quanto engrandecedora”, recorda. Ainda segundo ele, assistir a tragédia pela qual aquelas pessoas estão ando pela televisão não é tão impactante quanto ver pessoalmente.

whatsapp image 2024 07 08 at 19.15.29
Foto: Afonso Ventania / Bikerrepórter / Jornal de Brasília
Comandante do BPCães, tenente-coronel Carlos Reis

Os policiais do DF chegaram ao Rio Grande do Sul em um momento crítico e participaram de operações para garantir a segurança da população local. As ações foram realizadas em Porto Alegre, Canoas, Guaíba e Eldorado do Sul. A experiência dos militares na resolução de situações complexas foi fundamental para a eficácia da missão humanitária.

Eles atuaram também em patrulhamento tático, no emprego de embarcações nas áreas atingidas, intervenções em áreas de instabilidade, apoio a ações de inteligência e uso de cães para segurança e resgate.

Em Porto Alegre, os policiais da Patamo foram os primeiros a atender uma ocorrência na qual criminosos atearam fogo em um ônibus na Avenida Princesa Isabel. “Fomos a primeira tropa a chegar e, como tínhamos bastante material químico nas viaturas, conseguimos dispersar os criminosos que fugiram para um condomínio conhecido como “Carandiru”, por ser uma conhecida área de tráfico de drogas. Logo depois, a ocorrência ficou a cargo da tropa de choque da polícia gaúcha”, relembra o tenente Valença da Patamo.

Em operação conjunta com a Brigada Militar do Rio Grande do Sul, o BPCães combateu o tráfico de drogas e apreendeu 720 pinos de cocaína e várias porções de maconha. De acordo com o tenente-coronel Carlos Reis, até um pedófilo foi preso em um dos abrigos montados para acolher os desabrigados.

O Bope também prendeu quatros traficantes no município de Canoas com tabletes de maconha, celulares, armas de fogo e dinheiro. “O Bope levou oito policiais e foi com o objetivo de reduzir os índices de criminalidade e, no primeiro momento, atuou de forma integrada com o Bope local. Fazíamos patrulhas diurnas e noturnas em áreas alagadas e secas para coibir ações criminosas como furtos e assaltos”, relata o major Marlon do Bope/PMDF.

whatsapp image 2024 07 08 at 18.33.43
Foto: Afonso Ventania / Bikerrepórter / Jornal de Brasília

Para o oficial, a maior lição que aprendeu durante a missão no RS foi perceber que sempre há pessoas com problemas mais graves e prioritários. “Foi um momento intenso de reflexão. Muitas vezes achamos que nossos problemas não têm solução. No entanto, em um cenário de catástrofe em que as pessoas perderam familiares e todos os bens materiais paramos para repensar que, muitas vezes, nossos problemas são muito pequenos e amos a dar mais valor no que temos e à nossa família e amigos. Essa experiência vai ficar marcada na minha história”, conclui.

Na semana ada, os policiais militares que participaram da missão no Rio Grande do Sul foram homenageados em sessão solene no Senado Federal onde foram entregues diplomas de honra ao mérito ao coronel Carlos Eduardo Melo de Souza, comandante da força-tarefa, e ao major Vilner Borges, comandante do helicóptero Fênix 01.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado