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(in) Formação

Coluna Informação #082 – Zero corrupção no governo?

Mais de uma vez, nos encontros com seus seguidores no cercadinho montado em frente ao Palácio da Alvorada, ouviu-se o presidente Jair Bolsonaro dirigir-se à sua claque

Rudolfo Lago

25/06/2021 5h00

Atualizada 24/06/2021 14h35

Mais de uma vez, nos encontros com seus seguidores no cercadinho montado em frente ao Palácio da Alvorada, ouviu-se o presidente Jair Bolsonaro dirigir-se à sua claque: “Zero corrupção no meu governo. Zero”.

É claro. Já havia um ministro respondendo a duas investigações na Polícia Federal até a quarta-feira desta semana: Ricardo Salles, no Meio Ambiente. Um filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, é alvo de investigação sobre suposto esquema de rachadinha em seu gabinete quando era deputado estadual.

É claro. São investigações em curso. Mas são denúncias de irregularidade e desvio. Mas sobre elas Bolsonaro sempre poderá dizer que não o envolviam diretamente. E, no caso de Salles, poderá dizer que ele pediu demissão, embora tenha sido alvo de efusivos elogios na véspera da sua saída.

A denúncia investigada agora na I da Covid não lhe garante a possibilidade dessa ginástica retórica. O deputado Luís Miranda (DEM-DF) afirma que avisou diretamente a Bolsonaro sobre as irregularidades que envolviam o negócio, que faziam com que a vacina indiana Covaxin viesse a ser adquirida com um valor 1000% mais alto que o oferecimento inicial feito pelo laboratório Barath Biontech em correspondência anterior da Embaixada da Índia. Viesse a ser de longe a vacina mais cara adquirida pelo Brasil, ao preço de US$ 15 a unidade.

Se Bolsonaro nada fez com o alerta feito por Luís Miranda, trata-se de crime de prevaricação, quando o servidor público omite-se de tomar providências quanto a atos irregulares na istração do seu conhecimento.
Se havia pressão para acelerar o contrato de compra da vacina em termos que a encareciam de maneira exorbitante, o rastro de tal pressão pode também chegar ao Palácio do Planalto. Se a pressão vinha do gabinete do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ele sempre fez questão de que ali agia sob as ordens do presidente. “Um manda, outro obedece”, repetindo as suas palavras.

Ninguém deve esperar consequências contra o governo no plano judicial a partir das investigações da I. Uma sugestão de indiciamento por crime comum vinda da I tem pouquíssima chance de prosperar por ação do procurador-geral da República, Augusto Aras. Uma sugestão de indiciamento por crime de responsabilidade, da mesma forma, dificilmente se transformará em processo de impeachment pelas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira.

Mas, a partir da investigação da I, constrói-se um discurso a ser usado pelos adversários de Bolsonaro nas eleições de 2022. Um discurso que, na comparação com Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, os iguala. Ambos talvez agora tenham que explicar os esqueletos de corrupção escondidos nos seus armários.

Adeus, mas nem tanto

Ao longo de pouco mais de dois anos, com muita alegria pelos resultados obtidos, fui o editor chefe da edição impressa do Jornal de Brasília. Mas a vida dá voltas, “esquenta e esfria”, como escreveu Guimarães Rosa. E novos desafios surgiram no meu horizonte que me obrigam a deixar o jornal e comunicar a você, leitor, que esta é a última coluna InFormação de minha autoria.

Digo que esta é um “adeus, mas nem tanto” porque minha ligação com o Jornal de Brasília tornou-se inquebrável, por tudo o que essa experiência sempre representará para mim. Ainda estarei presente em conteúdos no site, como o JBrNews e o podcast semanal. A todos os que prestigiaram este espaço com suas leituras, agradeço imensamente!

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