O Banco Central continua “muito incomodado” pelo fato de as expectativas de inflação do mercado continuarem acima da meta, afirmou nesta sexta-feira, 16, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. Ele garantiu que a desancoragem está sendo observada “muito de perto”, especialmente no que diz respeito às projeções mais longas.
“Acho que comunicamos que o Banco Central está muito incomodado pelo fato de que as expectativas estão desancoradas”, disse Campos Neto, em um evento organizado pelo Barclays, em São Paulo “Mesmo com a comunicação sendo transparente sobre o que tentamos fazer, ainda vemos uma parte, especialmente no prazo mais longo, que não voltou à meta.”
Ele repetiu que, na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), foi definido que o BC não daria um guidance explícito sobre os seus próximos os. Em vez disso, optou-se por adotar uma postura dependente dos dados, afirmou o presidente da autoridade monetária.
Sobre a inflação no Brasil, Campos Neto disse que a expectativa é de números menores nas próximas leituras do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o que deve levar a taxa acumulada em 12 meses de 4,5% para um nível mais próximo de 4%.
Ele reconheceu, no entanto, que há alguns “sinais que nos preocupam um pouco” na inflação de serviços, na margem, especialmente no que se relaciona ao mercado de trabalho.
Países no caminho da convergência da inflação
O presidente do Banco Central avaliou nesta sexta-feira que a maioria dos países está no caminho de convergência da inflação. “Quando vemos a inflação global por países, eu acho que os países estão no caminho para a convergência da inflação, mas começamos a ter algumas histórias diferentes”, observou.
Como exemplo, ele citou a Austrália e o Canadá. “Em alguns outros lugares você começa a ter uma diferença. Então, a sincronização que tínhamos na política monetária está diminuindo um pouco”, avaliou.
Campos Neto lembrou que a sincronização foi muito alta na entrada da pandemia, mas que agora se começa a ver uma despedida na sincronização da política monetária. “E isso tem muitos impactos, um deles, eu acho, é a volatilidade alta nos mercados. E nós estamos vendo alguns deles”, disse, mencionando que começa a haver uma história diferente em termos da convergência nos países emergentes e citando a Colômbia.
O presidente do BC também apontou o Japão como um lugar “sempre interessante”. Ele descreveu que, em reuniões de banqueiros centrais, há uma preocupação com o aumento da inflação, mas que as autoridades do país asiático sempre celebravam. “Quando a inflação está maior, são sempre os únicos com cara feliz na sala o tempo todo.”
Mercado sensível e percepção é de pouco espaço para política contracíclica
Campos Neto disse nesta sexta-feira que o mercado está mais sensível a dados fracos da economia. “Pensamos que parte da razão pela qual o mercado é mais sensível para dados ruins é a percepção de que se, por acaso, tivermos recessão ou se a economia começa a acelerar mais intensivamente, globalmente, há espaço muito menor para governos e bancos centrais fazerem políticas contracíclicas”, observou.
Ainda sobre cenário externo, Campos Neto observou que está acontecendo uma desalavancagem em moedas, citando como exemplo o iene.
Ele também observou que, conforme se aproximam as eleições americanas, há destaque para os problemas que estão sendo debatidos e eles são extremamente relacionados com temas inflacionários em ambos os lados. “Muitos de vocês têm escrito e falado sobre isso”, disse.
Sinais do mercado de trabalho da Europa e EUA
O presidente do Banco Central destacou que há sinais de acomodação do mercado de trabalho na Europa e nos Estados Unidos, na margem. Em países emergentes, de acordo com ele, a história de serviços é muito diferente, com vários caminhos diferentes porque alguns mercados am por reformas, por exemplo, e outros, não.
Em alguns, conforme Campos Neto, os indicadores estão relacionados com a renda laboral e, em outros, como o preço da comida impacta o serviço. Este é um trabalho que vem sendo monitorado de perto pelo BC, segundo ele.
O presidente da autarquia avaliou que a inflação cheia nos Estados Unidos está diminuindo e que o tema ganhou grande espaço nas campanhas tanto de republicanos quanto de democratas. Ele enfatizou, entretanto, que as propostas inflacionárias ainda não se refletiram nos preços de mercado nos EUA.
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