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Economia

Dólar sobe e Bolsa cai, com cautela antes do pacote fiscal e do resultado das eleições dos EUA

Os investidores adotam cautela nesta terça-feira, último dia para os americanos escolherem entre Kamala Harris, atual vice-presidente democrata, e Donald Trump, ex-presidente republicano, para a Casa Branca

Redação Jornal de Brasília

05/11/2024 14h00

Foto: banco de imagens

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar apresenta leve alta nesta terça-feira (5), em meio à espera pelo anúncio de medidas de contenção de gastos do governo brasileiro e pelo resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos.

Às 13h, o dólar subia 0,18% e estava cotado a R$ 5,793. Já a Bolsa caía 0,42%, aos 129.962 pontos, com o balanço do Itaú entre os destaques do noticiário corporativo.

Os investidores adotam cautela nesta terça-feira, último dia para os americanos escolherem entre Kamala Harris, atual vice-presidente democrata, e Donald Trump, ex-presidente republicano, para a Casa Branca.

Os dois chegam tecnicamente empatados ao dia da eleição, numa disputa que pode ser a mais acirrada da história dos Estados Unidos.

Mas, ainda que as pesquisas de opinião indiquem um cabo de guerra equilibrado entre os dois candidatos, o mercado de apostas projeta maior probabilidade de uma vitória de Trump. Na Polymarket, a maior plataforma de previsões do mundo, o republicano tem 62% de chance de vencer.

As apostas de um retorno do ex-presidente ao poder têm pautado o mercado financeiro nos últimos dias, que ou a precificar o impacto das propostas de Trump na economia.

O republicano promete aumento tarifário sobre as importações, especialmente as chinesas, e um possível corte de impostos -medidas que são vistas como inflacionárias e que podem influenciar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter juros elevados por mais tempo, o que fortalece o dólar.

No último final de semana, no entanto, pesquisas de opinião consideradas “padrão ouro” indicaram força de Kamala em estados cruciais, o que pode levar a uma virada democrata no pleito. O movimento desmontou parte das apostas em Trump na segunda-feira, e, no câmbio, isso se refletiu em perdas globais da moeda norte-americana.

“Esse movimento de recuperação da Kamala não muda muito o cenário total de que a eleição ainda é muito acirrada, praticamente empatada, impossível de antecipar o seu vitorioso. Mas levou os agentes a desmontarem algumas das suas posições que eles assumiram nas últimas semanas”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

A indefinição sobre o resultado das eleições -que pode levar, como ocorreu na disputa de 2020- inspira cautela entre os operadores, que aguardam sinalizações mais concretas antes de tomar posições de investimentos.

Na ponta doméstica, a moderação vem redobrada. O mercado aguarda a divulgação do pacote de corte de gastos do governo federal, que, como afirmou o ministro Fernando Haddad (Fazenda) na véspera, poderá ocorrer ainda nesta semana.

Segundo ele, as medidas de contenção de despesas estão “muito avançadas” do ponto de vista técnico.

Na própria segunda-feira, em reunião no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com a equipe econômica e com ministros que poderão ser atingidos pelo pacote.

Estavam presentes Haddad e as duas outras ministras que integram a ala econômica, Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviço Público), além do chefe da Casa Civil, Rui Costa. Também participaram Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação).

O encontro durou cerca de três horas, mas terminou sem nenhum anúncio de medidas.

A Fazenda informou após o encontro que vai seguir se reunindo com ministérios que podem ser afetados pelos cortes nos gastos.

“O Ministério da Fazenda informa que, na reunião desta segunda-feira, o quadro fiscal do país foi apresentado e compreendido, assim como as propostas em discussão. Nesta terça, outros ministérios serão chamados pela Casa Civil para que também possam opinar e contribuir no âmbito das mesmas informações”, afirma a pasta.

Não foi informado quais ministérios serão ouvidos.

O movimento do governo ocorre após dias de estresse no mercado financeiro. O dólar disparou na última sexta-feira para R$ 5,86, a maior cotação desde maio de 2020, em reação agravada pela notícia da viagem -posteriormente cancelada- de Haddad à Europa.

O ministro aria a semana em eventos em Paris, Londres, Berlim e Bruxelas, e, segundo um interlocutor ouvido pela Folha de S.Paulo, a ausência do chefe da ala econômica tornaria “praticamente impossível” que o plano fosse definido nos próximos dias -a contragosto do mercado, que espera celeridade na resolução das incertezas fiscais.

“A permanência de Haddad é uma sinalização muito importante para os investidores. É claro que não soluciona o problema, ainda é preciso ver como o pacote será apresentado ao Congresso e negociado nas alas políticas, mas já é um bom sinal”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“[O detalhamento] vai ser importante para trabalhar melhor as expectativas da trajetória de endividamento no contexto do arcabouço fiscal, para ele ser executivo.”

Para o mercado, o governo precisa ajustar a ponta das despesas, e não só reforçar a arrecadação, para garantir a longevidade do arcabouço fiscal.

A previsão de encaminhar ao Congresso Nacional ainda em 2024 um pacote de revisão de gastos estruturais foi anunciada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) em 15 de outubro. Na ocasião, afirmou que as medidas seriam enviadas após as eleições municipais, que terminaram no domingo ado (27).

A semana ainda guarda as decisões de juros do Fed e do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).

Por causa das eleições presidenciais, a reunião da autoridade norte-americana foi adiada em um dia e irá ocorrer entre quarta e quinta-feira, enquanto a decisão do comitê brasileiro será anunciada na quarta-feira, como de praxe.

A expectativa dos agentes financeiros é que o Fed dê continuidade ao ciclo de afrouxamento nos juros.

Na reunião de setembro, o colegiado reduziu a taxa em 0,5 ponto percentual, levando-a à banda de 4,75% e 5% -o primeiro corte em quatro anos.

Na ferramenta CME Fed Watch, a probabilidade de uma redução de 0,25 ponto marca 96%. A diminuição do ritmo vem na esteira de uma bateria de dados que indicaram que a economia dos Estados Unidos segue forte, com inflação convergindo à meta de 2% e mercado de trabalho resiliente.

O movimento é o oposto do BC brasileiro. Aqui, o Copom decidiu reiniciar o ciclo de apertos na taxa Selic na reunião ada, quando optou por uma alta de 0,25 ponto percentual e levou os juros a 10,75% ao ano.

Com a piora no cenário econômico nos últimos 45 dias, o mercado espera que o comitê acelere o ritmo de altas para 0,5 ponto percentual.

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