MATHEUS DOS SANTOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A frota de veículos do Brasil é cada vez mais branca, preta, prata e cinza. Segundo dados da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito), divulgados em outubro, 68% dos veículos em circulação no Brasil foram pintados com variações dessas cores.
O cenário mundial é similar. Segundo relatório da Basf, fabricante de tintas automotivas, 81% dos carros novos vendidos no mundo em 2023 tinham tons acromáticos em 2023.
Essa tendência persiste mesmo com o aumento de opções coloridas no mercado, que aparecem principalmente quando um novo modelo é lançado. O SUV compacto Renault Kardian, por exemplo, chegou ao mercado na cor laranja energy. Segundo a fabricante, cerca de 10% das vendas do Kardian, entre março e novembro de 2024, foram nesse tom.
Na Chevrolet, a minivan Chevolet Spin 2025 veio nas cores azul boreal e verde safari. Já a nova geração do SUV médio Equinox trouxe as opções verde cacti e vermelho radiant.
“Temos procura por tonalidades que fogem do branco, prata e preto. As cores vermelha, verde e azul permeiam vários modelos de nosso catálogo”, diz a Chevrolet em nota.
O Citroën Basalt também trouxe tonalidades mais vibrantes, como vermelho rubi e cosmo blue. Na Ford, o Bronco chamou a atenção com as pinturas verde fuji, azul atlas e laranja delhi.
Empresas do ramo de tintas também têm iniciativas para ampliar a diversidade no mercado automotivo, e uma delas é a escolha da cor do ano. Para a PPG, o tom de 2025 se chama purple basil, definido como “um violeta empoeirado”.
Na Basf, as cores automotivas do biênio 2023/2024 incluem a acinzentada graça calma (América do Sul) e a zenomenon (América do Norte), que remete ao verde-claro.
“No Brasil, logo após o lançamento, a cor do ano começa a ser considerada datada. Existe um medo de desvalorização do veículo e a escolha continua a ser o branco, ficamos nesse ciclo “, afirma Marcia Holland, consultora e autora do livro “CMF (Color Material Finishing): A Essência das Cores”.
COMO UMA COR É DEFINIDA?
As fabricantes de automóveis têm um amplo processo para definir uma cor. A persona, uma espécie de modelo ideal de cliente criado a partir de dados, é central nesta etapa. Há testagens de como o tom irá se adaptar a diferentes ambientes e luminosidades
As montadoras buscam evitar que a cor sofra muitos desgastes com a incidência da luz solar. Por isso, diferentes partes do veículo am por validações nesta etapa. “As tonalidades do , do volante, das portas, entre outras, precisam ser definidas com atenção para não provocar ofuscamento e prejudicar o motorista”, afirma Márcia.
Para Ricardo Vettorazzi, gerente técnico de repintura automotiva da PPG, empresa especializada em tintas, ao definir uma cor, a montadora se preocupa mais com a baixa variação. “Quando é um processo produtivo em grande escala, com grande demanda de saída de produtos, a menor variabilidade que você tiver, melhor”, diz.
Segundo ele, na década de 1980, as pinturas envolviam processos manuais, o que possibilitava uma maior oferta de cores. Com a automatização, cores mais baratas foram priorizadas, e o mercado consumidor se adaptou -o que tornou todo o processo mais fácil.
“Os pigmentos azuis, verdes ou vermelhas são mais caros, e os fabricantes acompanham a demanda. É possível pintar um carro com qualquer cor, mas o público não tem tido tanto interesse”, diz Vettorazzi.
Para ele, preto, branco, cinza e prata já estão consolidados no gosto dos consumidores, e a tendência é que isso continue.
Segundo Marcia Holland, consultora de cores e autora do livro ‘CMF (Color Material Finishing): A Essência das Cores’, a preferência pela cor branca segue uma tendência iniciada na década de 2010.
“O mercado como um todo, incluindo o de automóveis, foi impactado pelo lançamento dos produtos da Apple na cor branco magnésio. Hoje, existem empresas que querem inovar, mas elas vão evitar se arriscar”, diz.
A cor vermelha é uma exceção por estar consolidada no mercado brasileiro. “O vermelho entra no imaginário por reforçar um perfil de aventura. Existe a clássica relação da cor com os carros da Ferrari”, afirma.
CARROS COLORIDOS TÊM FILA DE ENCOMENDA EM CONCESSIONÁRIAS
A reportagem consultou modelos de 2024 e 2025 das montadoras Fiat, Volkswagen, Chevrolet e Hyundai e entrou em contato com Renault e Citroën. Nas quatro primeiras empresas, a oferta de tons mais coloridos varia entre vermelho, azul e verde, com predominância do primeiro.
Em consulta às concessionárias, carros populares como Chevrolet Onix, Fiat Argo e Volkswagen Virtus não foram encontrados nas cores para pronta entrega, isto é, disponíveis de imediato ao comprador. É necessário fazer uma encomenda, e a espera pode chegar a fevereiro de 2025.
A Hyundai oferece disponibilidade para todas as cores no prazo de 15 dias, de acordo com vendedores e porta-vozes da empresa. A Renault afirma que o cliente pode ter que esperar até no máximo 30 dias para a fabricação, mais o tempo de trânsito até a loja.
No caso do Citroën, o tempo de produção é o mesmo para todas as cores disponíveis. “Caso não tenha em estoque, o cliente pode solicitar a encomenda que é a mesma, independente da cor escolhida.”
Para Vettorazzi, quanto mais , maior a chance do cliente encontrar uma maior variedade de cores. “É o exemplo da Ferrari. É um veículo bem valorizado no mercado, com cores chamativas. Nesse caso, o custo das cores se dissolve na produção”.
Para Holland, os compradores dessas marcas enxergam o carro como uma . “O foco é em profissionais de grande projeção. Então, você vê um Lamborghini laranja e pensa: ‘é do fulano’. É algo consciente por parte das empresas”, afirma.