CAROLINA LINHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Sob protesto de opositores internos, o PSDB deve confirmar o apresentador José Luiz Datena na disputa pela Prefeitura de São Paulo na manhã deste sábado (27), em convenção na Assembleia Legislativa -cena que até mesmo os tucanos aguardam ver para crer.
Nas palavras de Datena, “a expectativa de ser ou não ser, eis a questão”, condiz com seu histórico na política. Desde 2015, foram 11 partidos e quatro desistências de concorrer ora ao Senado ora à prefeitura.
Filiado a um atrofiado e dividido PSDB desde abril, Datena chegou a 11% na pesquisa Datafolha divulgada no último dia 5, atrás de Ricardo Nunes (MDB, 24%) e Guilherme Boulos (PSOL, 23%) e colado com Pablo Marçal (PRTB, 10%).
Em seus flertes anteriores com a política, Datena não chegou a interagir com eleitores na rua como fez neste mês. É a primeira vez que sua pré-candidatura chega à etapa da convenção. Até agora, seu contrato e remuneração na Band pesaram contra a migração para as urnas.
Datena tem o endosso da cúpula do PSDB, mas enfrenta objeção de tucanos que buscam reeleger Nunes.
Liderada pelo ex-presidente municipal Fernando Alfredo, a ala rebelde apresentou ao partido a pré-candidatura dele como alternativa e promete ir à Justiça.
Na convenção, querem um debate com Datena e organizam uma manifestação. O apresentador tem dito que só será candidato se não for “sacaneado”.
A convenção deve anunciar quem será o vice na chapa pura tucana. O presidente municipal do PSDB, ex-senador José Aníbal, e o ex-vereador Mario Covas Neto, o Zuzinha, são os mais cotados.
Enquanto dirigentes do PSDB afirmam não haver plano B, outros líderes tucanos advogam pelo apoio a Nunes ou a Tabata Amaral (PSB) caso Datena renuncie até 15 de agosto, prazo para registro da candidatura.
Nos últimos dias, Datena sinalizou em entrevistas, inclusive à Folha de S.Paulo, que poderia desistir. Desde terça (23), porém, ou a garantir que será candidato.
Neste ciclo eleitoral, Datena começou filiado ao PDT, que iria lançá-lo à prefeitura, mas mudou para o PSB, a convite de Tabata, para ser seu vice. Também incentivado por ela, que tinha o plano de garantir uma coligação, foi para o PSDB.
Datena nega ter traído Tabata, que ainda mantém alguma esperança de atrair o apoio dele e do PSDB na última hora.
Diferentemente das convenções tradicionais, com votação ampla entre delegados, a do PSDB será restrita à executiva municipal da federação PSDB-Cidadania, com 14 titulares -colegiado em que Datena tem maioria, o que deve restringir a ação dos tucanos opositores ao jogo de cena.
Isso porque o órgão tucano na capital é uma comissão provisória e não um diretório propriamente dito desde que o então presidente do PSDB, governador Eduardo Leite (RS), interveio em São Paulo, em outubro de 2023, para alijar do comando a ala fiel a João Doria, que também é pró-Nunes.
“Datena, não fica receoso em ir para a convenção. Não terá nenhum tipo de hostilidade, […] Você está filiado no PSDB há meses e sequer se reuniu com a militância. […] Só queremos debater e saber o que você pensa sobre a cidade”, disse Alfredo no Instagram, se dirigindo ao apresentador como “recém-tucano”.
“Não adianta esse desesperado Ricardo Nunes usar os empregadinhos dele dentro do PSDB para tentar atrapalhar a nossa convenção”, afirmou Datena em suas redes, acrescentando que “o que acontecer fora da curva e com violência na convenção vai ser culpa do Ricardo Nunes”.
O apresentador, que vinha ressaltando sua desconfiança com o mundo político e com o PSDB como um todo, mencionando “tiros nas costas”, modelou o discurso e ou a mirar no prefeito e no grupo de tucanos fiel a ele.
O freio de arrumação se deu por meio de uma reunião, na quarta (24), entre Datena, Aníbal, o presidente do PSDB, Marconi Perillo, e o deputado Aécio Neves (MG), em que o apresentador se comprometeu com a campanha -os dirigentes haviam considerado injustas as críticas de Datena.
Datena está agora sob orientação do marqueteiro Felipe Soutello, contratado pelo PSDB e que conduziu a campanha vitoriosa de Bruno Covas (PSDB) em 2020.
Buscando a frágil trilha da terceira via, o apresentador tem atacado a polarização e os extremos. Outro mote da pré-campanha é a segurança pública e o combate ao PCC, bandeiras históricas de Datena, que acena para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) enquanto não poupa ataques à gestão Nunes.
Até agora, no entanto, o apresentador foi pouco propositivo, e a preocupação da sua equipe é fazer com que o eleitor acredite que Datena, conhecido por 90%, tem capacidade de prefeitar.
A opção por Datena causou contrariedade e até desfiliações no PSDB -como do ex-senador Aloysio Nunes. A constatação entre tucanos é de que ele não é o social-democrata ideal, mas o possível.
Desde 2020, quando reelegeu Covas, o PSDB testemunhou a derrota do então governador Rodrigo Garcia, as traumáticas prévias entre Leite e Doria, e a impossibilidade deste último de lançar-se ao Planalto. O partido, que tinha 12 vereadores na cidade, agora não tem nenhum -todos migraram na janela partidária.
O novo momento do PSDB foi capturado na fotografia que uniu Datena e Aécio em 13 de junho, dia do lançamento da pré-candidatura. Em meio ao escândalo da JBS, o apresentador chegou a dizer que o tucano deveria ser preso -Aécio foi absolvido.
PSDB EM 2020 X PSDB EM 2024
Vereadores
2020: 12
2024: 0
Órgãos na capital
2020: 58 diretórios zonais
2024: 38 comissões provisórias zonais (com meta de chegar a 58 até agosto)
Presidente municipal
2020: Fernando Alfredo
2024: José Aníbal
Verba para campanha na capital
2020: R$ 11,8 milhões (9% do fundo do PSDB)
2024: estipulado R$ 8 milhões (5,4%)
CANDIDATURAS FRUSTRADAS DE DATENA
– 2016: Cogitou disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PP
– 2018: Ameaçou lançar-se ao Senado pelo DEM (hoje União Brasil)
– 2020: Ensaiou candidatura à chefia do Executivo paulistano ou compor a chapa de Bruno Covas (PSDB) como vice
– 2022: Cogitou disputar o Senado pelo PSC
PARTIDOS POLÍTICOS EM QUE DATENA JÁ FOI FILIADO
– PT: 1992-2015
– PP: 2015-2017
– PRP (hoje PRD): 2017-2018
– DEM (hoje União Brasil): 2018-2020
– MDB: 2020-2021
– PSL (hoje União Brasil): 2021-2022
– União Brasil: 2022
– PSC: 2022-2023
– PDT: 2023
– PSB: 2023-2024
– PSDB: 2024-atualmente