Milhares de corões e textos de pregadores muçulmanos dividem espaço com obras da literatura estrangeira e com manuais acadêmicos na Feira Internacional do Livro do Cairo, onde alguns temas estão vetados.
Corões em diferentes versões, formatos, acabamentos, qualidades e preços inundam “a maior feira do livro do Oriente Médio e a segunda do mundo, que fica atrás apenas da mostra de Frankfurt (Alemanha)”, disse hoje à Agência Efe o subsecretário da mostra Mamdouh Shaath.
Desde a abertura, na última sexta-feira, milhares de egípcios visitaram os 19 pavilhões da 42ª edição, que conta com a participação de mais de 800 editores de 31 países.
Magdy, um editor egípcio, declarou à Efe que “é a feira do livro pertence a uma sociedade conservadora, por isso que as pessoas vão até lá comprar os corões e livros religiosos”.
“Há seis anos tivemos problemas com o Kamasutra”, explicou o editor, fato que deixou de fora desde então este compêndio milenar da sabedoria erótica indiana.
“Diante de qualquer dúvida sobre um livro, não o trazemos”, contou Magdy.
Com relação a isso, o subsecretário da feira afirmou que não é proibido nenhum exemplar, embora tenha reconhecido que existe “um processo de controle das obras expostas”.
Antes de iniciar a mostra, os vendedores elaboram uma lista com os livros à venda, que é supervisada pelas autoridades.
Nos pavilhões dedicados à venda de livros islâmicos, entre fac-símiles antigos e modernos CD com as fátuas (éditos islâmicos), um visitante da feira, Manduh Abu Said, conta que acaba de chegar “do Iêmen” para comprar algumas obras.
“Não imaginava uma feira tão grande, é maravilhosa e supera qualquer outra”, assinalou Manduh, enquanto folheava um Corão encadernado em couro com acabamento dourado.
Não longe dali, está o expositor de Mohammed, onde os livros mais vendidos são as interpretações simplificadas do Corão, editadas pela Academia do rei Fahd saudita.
Nos pavilhões de obras muçulmanas, existem corões de todas as dimensões, desde miniaturas até enormes obras que estão abertas ao alcance do público, em sua maioria mulheres com niqab (véu preto que cobre o rosto, só deixa os olhos) e estudantes da universidade islâmica de Al-Azhar.
A edição digital do livro está entre as novidades da feira, um local no qual “os clientes procuram os livros de acordo com as suas preferências como o tipo de papel e a matéria-prima”, explicou Mohammed.
Às portas do pavilhão número três, meia dúzia de homens rezam sobre um tapete, enquanto em um parque próximo, famílias egípcias desfrutam do sol, revisam as bolsas cheias de livros e folheiam as primeiras páginas de alguns deles.
“O povo vem aqui e a um dia agradável”, ressaltou Shaath, quem confia em superar os dois milhões de visitantes, quando a exibição fechar as portas em 13 de fevereiro.
O outro lado da feira, dedicado à literatura estrangeira, a protagonista neste ano é a Rússia, o país convidado, e os estudantes universitários que buscam publicações em inglês e francês e textos acadêmicos.
Segundo os editores, os livros são os exemplares mais procurados junto com os romances do Prêmio Nobel egípcio Najib Mahfuz (1911-2006), o maior cronista do Cairo contemporâneo.